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sábado, 11 de junho de 2011

A FERA


A FERA

Ubirajara Godoy Bueno


            Estirado numa rede, às sombras das árvores que circundavam a clareira, lorde C. acompanhava o trabalho dos ajudantes nativos de remover a pele de um leopardo recém abatido.
         — Será uma caçada e tanto – disse o lorde ao seu velho amigo professor.

­“Sob as folhagens, a fera observava o acampamento. Seria apenas isto, não fosse a sensação de fome. Era necessário comer, algo simples e habitual. Levantou-se, espichou o corpo e avançou preguiçosamente”

— Quem diria? Semana passada estávamos em Londres – comentou o professor, contemplando a imensidão verde que se estendia até as savanas.
         — Bem sabe, meu amigo, que o homem pode adaptar-se e dominar as condições mais adversas — respondeu o lorde abanando-se com o chapéu. Depois, em voz baixa, como se falasse mais para si mesmo, completou com ares de enfado:
         — Embora este calor seja insuportável.   
         — Em se tratando da região mais selvagem da África, o domínio pode significar uma aventura de alto risco – lembrou o professor, exibindo uma cicatriz no antebraço, recordação da primeira caçada.
         — O confronto entre a inteligência e a força bruta tem mostrado a superioridade da primeira. O raciocínio e a sagacidade prevalecem ao instinto — retorquiu o lorde, tocando a fronte com o dedo indicador.

         “A fera se aproximava contornando a clareira sob os densos arbustos. O corpo molengo no mormaço da tarde. O galhinho seco quebrado sob a pata e o vento que soprava na mesma direção não eram coisas que a preocupavam. Já conhecia a espécie humana de outras ocasiões. Era desprovida de audição e olfato apurados”.

         — Devo mais ao rifle do que propriamente ao raciocínio – respondeu o professor pilheriando, enquanto apanhava sua arma de sobre uma pedra incrustada no centro da clareira.
         — É o raciocínio e a habilidade que o torna apto a usá-la. A propósito ...
         Dizendo isso, o lorde levantou-se da rede e, tomando o rifle das mãos do amigo, abateu com um tiro certeiro um camaleão que atravessava o descampado, numa demonstração de agilidade e admirável precisão.
         —  Uma arma por si só não passa de um objeto inútil —  finalizou o lorde garboso. 
         O réptil abatido foi içado pelo rabo para a devida apreciação, a qual foi rápida e sem muito interesse. Em seguida o animal foi atirado longe.

         “A fera penetrou na clareira e não lhe  ocorreu que as presas viessem a lhe fugir da alçada. Apesar de possuírem pernas longas, eram lentas e desajeitadas”

         Satisfeito com a feliz exibição, o lorde abasteceu o cachimbo e voltou à rede.
         — Vive la vie! Como dizem os franceses – exclamou, ateando fogo no fornilho com arabescos dourados.

         “Os músculos retesaram-se e o corpo flexível estirou-se num salto formidável. Sem presunção, orgulho ou ódio; uma quase indiferença. Apenas o abate rápido e indolor”.

* * *


DATA DA PRODUÇÃO:  1994  —  PUBLICAÇÃO:  HISTÓRIAS HETEROGÊNEAS – 1995   —   REGISTRO:  Fundação Biblioteca Nacional – Escritório de Direitos Autorais  No  205.836  -  Livro 356  -  Folha 496  -  Data:  21/07/2000

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