COLAPSO
Ubirajara Godoy Bueno
O primeiro homem enlaçou com uma corda o tronco que ainda não alcançara a robustez de sua estirpe. Um segundo cuidava de remover a terra de sobre as raízes.
Entremeios, o feitor afiava a lâmina do machado.
A corda foi estirada ao longo do quintal e presa a uma estaca. Demarcava onde a árvore tombaria ao cabo de alguns minutos.
— Não parece ser da espécie que cresce muito – comentou um observador.
— Vai comprometer os fios elétricos – replicou o Senhor do Quintal que acompanhava o trabalho.
— Isso não vai acontecer. Bobagem cortá-la.
O Senhor do Quintal reavaliou a altura da copa. Levantou os sobrolhos e torceu a boca com cara cismada.
— Melhor podar; já começamos o serviço – disse o feitor com autoridade, não querendo desperdiçar os preparativos.
— Vamos deixá-la – interveio uma mulher que se aproximava do grupo crescente de espectadores.
O feitor levantou o machado e mirou as raízes já expostas, mas ainda agarradas ao solo. Os galhos tremulavam, embora não ventasse.
— Deixa estar – insistiu a mulher.
— Está bem! Mas se crescer além do telhado, vamos cortá-la sem protelações – decidiu o Senhor do Quintal com o dedo em riste.
A corda foi retirada e a terra reposta sobre as raízes.
Na primavera, nenhuma flor coloriu a árvore. O caule não se desenvolveu, ao contrário, parecia definhar-se lentamente. As folhas perderam o viço. Os ramos pendiam como se curvados por um grande peso.
Alguns cuidados dos moradores vizinhos, que lhe ministraram fertilizante e água fresca, de nada adiantaram. Desfolhada, e quase sem vida, a minguada árvore secou definitivamente.
Um dia queimaram-na numa fogueira junina.
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