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sábado, 7 de maio de 2011

OSSOS DO OFÍCIO

OSSOS DO OFÍCIO

Ubirajara Godoy Bueno



         Estacionou o carro numa vaga privativa.
         Consultou o relógio: sete horas e onze minutos. Um pouco cedo. Melhor assim, teria tempo para as preliminares.
         Alisou os bigodes, arrumou a gravata e, com um peteleco, expulsou do paletó um farelo de pão, vestígio do último sanduíche.
         Com exceção de um ligeiro tremor nas pernas, estava pronto para aquela noite. Não era sua primeira vez, mas sentia-se um tanto apreensivo  diante de uma nova experiência.

         Dirigiu-se à entrada principal do velho prédio. Atrás da porta envidraçada, divisou uma silhueta feminina. Vestido vermelho com estampas brancas. Conhecera-a no dia anterior. Cabelos pretos, olhos garços; era bonita e solícita. Como se chamava?  Daniela. Ou seria Daniele?  Não se lembrava.
         A moça de vermelho ocupava-se em organizar uma pilha de papéis sobre a mesa da recepção. Ao vê-lo entrar, voltou-se com um sorriso amável.
         - Boa noite. Como está passando o nosso novo professor?
         - Excelente.
         - Vou acompanhá-lo até a sala de aula — prontificou-se a recepcionista.
        - Não será necessário, senhorita. Ontem estive a conhecer a escola. Lembra-se ?
         Seguiu sozinho. Os sapatos rangiam loucamente, mas não deixaria este pormenor tirar-lhe a concentração.
         Alunos universitários. Um novo desafio. Haviam lhe prevenido sobre a turma da faculdade. Indolentes, atrevidos, rebeldes - muito diferentes dos ginasianos e colegiais, com os quais estava acostumado. Mas tudo se resolvia com paciência e o método correto.   
         Invadiu a sala com toda autoridade que o cargo lhe conferia.
         Voltaram-lhe as atenções. Lobos famintos em direção à ovelha.
         Não se apresentaria de imediato.  Os alunos  é que deveriam  se  expor  primeiro.  Um artifício  psicológico.
         Solicitou a todos que dissessem seus nomes, ocupações e lazeres preferidos. Entremeios, aproveitou para tecer alguns comentários e até mesmo arriscar algumas anedotas.
         Voz grave. Postura imponente e autoritária. Gestos seguros, friamente calculados. Estava em forma. Faria inveja a Aristóteles, o grande orador.
         Feito isto, pediu a todos que descrevessem em seus cadernos um fato pitoresco presenciado nos últimos dias. O material seria aproveitado para a primeira aula. Uma forma divertida de quebrar a “frieza  universitária” ( se é que existia realmente). Depois disso o caminho estaria desimpedido. Seria o dono da situação.
         Não esconderam que a tarefa era enfadonha, contudo, o trabalho foi iniciado entre suspiros e bufidos.
         À porta da sala, postou-se a linda recepcionista de vestido vermelho.
         Com dois ou três rangidos, o professor se aproximou, empertigado, ávido em atendê-la.
         - O professor está...
         “Fabuloso, exuberante, sensacional” -  tentava o mestre, em pensamentos, colocar-lhe na boca o predicado mais adequado.
         - ... na sala errada – completou ela, com um olhar quase piedoso. 

* * *


DATA DA PRODUÇÃO: 1994  —  REGISTRO: Fundação Biblioteca Nacional – Escritório de Direitos Autorais No  205.836   -   Livro 356  -  Folha 496  -  Data:  21/07/2000.


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