O PÁSSARO
Ubirajara Godoy Bueno
“Ah! Que bom seria aquecer-se ao sol da manhã!” — imaginava o pequeno pássaro, ainda menor quando se recolhia em reflexões.
No velho galpão, que lhe abrigava a gaiola, jamais incidiam os raios do sol. Às sombras do seu cativeiro, recordava-se com saudade dos tempos em que se deixava estar à luz das manhãs, empoleirado nas galhadas mais altas ou enquanto ciscava a terra fofa com as penas enfunadas. Quando não, alçava voo no céu resplandecente. Eram lembranças vagas e difusas, como as imagens de um filme esmaecido, pois muito tempo se passara desde o dia em que fora aprisionado.
Aqueles que o viam taciturno, calado, não poderiam imaginar que já fora um cantor magnífico e esbanjara alegria. Mas perdera o dom para cantar e de sua plumagem pouco restara das cores e do brilho de antigamente. Não havia, pois, razão para mantê-lo preso, a não ser pelo hábito ou capricho.
Reconfortava-o, tão somente, a companhia de um vaso de viçosas folhagens. Os ramos, a cada dia mais fortes, cresciam rapidamente em sua direção e pareciam ter pressa em alcançá-lo. O caule mais robusto quase já tocava a gaiola presa ao teto por uma corrente.
Aconteceu, certo dia, um gato invadir o galpão. O pássaro sereno, como se condescendente com os propósitos do felino, observou-o aproximar-se em silêncio com passos furtivos. Não temeu o seu mais implacável predador, antes, pareceu rejubilar-se com a sua presença.
O gato postou-se junto ao vaso de folhagens e mirou a gaiola suspensa. Durante algum tempo, avaliou a possibilidade de êxito da próxima investida. Finalmente, fincou as unhas no caule tenro e pôs-se a subir em direção ao viveiro. Graças à presença oportuna da planta, pôde alcançá-lo sem dificuldades.
Estendeu uma das patas entre as hastes da gaiola tentando apanhar a sua presa, pousada no centro do poleiro e fora do seu alcance.
O pássaro fitava-o imóvel, mas seu coração agitava-se numa doce euforia. Podia reconhecer a liberdade iminente. Bateu as asas e lançou-se, com um suspiro de alívio, de encontro às garras do seu predador.
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DATA DA PRODUÇÃO: 1999 — REGISTROS: Fundação Biblioteca Nacional – Escritório de Direitos Autorais NO 305.044 - Livro555 - Folha 204 - Data: 24/11/2003 — No 474.325 - LIVRO 894 - Folha 134 - Data: 06/10/2009
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