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sábado, 7 de maio de 2011

LA CUCARACHA

LA CUCARACHA 


Ubirajara Godoy Bueno



Acordou no meio da noite. Sustou o movimento de puxar a coberta; sobre o travesseiro, perfeitamente visível na claridade do abajur, pousava uma barata de asas reluzentes.
         Olhou estarrecido para a companheira de cama, a dez centímetros do seu nariz.
         Tinha horror a baratas e jamais imaginou que presenciaria uma delas a tão curta distância.
         Com o rosto afundado no travesseiro, observava a barata num plano inferior, o que lhe dava a ilusão de estar diante de um monstro gigantesco.  Nas pernas, incrustadas de pêlos, soerguia o abdome castanho dividido em gomos roliços. A cabeça encarapaçada afunilava-se em maxilas sólidas. O par de antenas agitava-se energicamente.
         Não fosse o hábito de manter acesa a luz do abajur durante a noite, a desgraça teria sido maior  —  concluiu num frágil consolo. Lembrou-se do caso de um pobre homem que, enquanto dormia, teve a sua orelha invadida por uma barata.
         Pensou apanhar o despertador na mesa de cabeceira e esmagá-la num único golpe, mas erguer o braço colocaria a visitante em movimento, a qual poderia correr para fora do travesseiro ou saltar-lhe no rosto. Fugir da cama num pulo implicaria em risco semelhante. A coberta dificultava-lhe uma retirada ligeira e estratégica. Sabia, através de muitas observações, que as baratas, quando surpreendidas por movimentos bruscos, lançavam-se desnorteadas em qualquer direção. Eram imprevisíveis. Considerou a possibilidade de tê-la sob o pijama diante de uma fuga malograda e resolveu manter-se imóvel. Suportou uma comichão na perna.
         Olhou preocupado para um vão entre o lençol e o colchão. Infiltrar-se ali a barata e correr-lhe o corpo era o mais provável. Não pôde evitar um ligeiro tremor. Com efeito, a barata moveu-se; agora mais próxima e as antenas quase lhe tocavam o nariz.
         Seria impossível aguardar pacificamente a marcha dos acontecimentos que culminaria em algo desastroso. Urgia uma ação imediata.
Pálpebras imóveis, olhos sagazes, olhou fixamente a barata. Num golpe rápido e certeiro, abocanhou-a inteira e cravou-lhe os dentes.
         Assim, livre do perigo, suspirou aliviado e voltou a dormir.
                  
* * *


DATA DA PRODUÇÃO: 1995  —  CRÉDITOS:  Conto classificado em 2o lugar no concurso  literário da Academia de Letras da grande São Paulo –   Prêmio ALGRASP 2005. — PUBLICAÇÕES: Jornal ADC  Rhodia  (Santo André) –  Ano I – Ed.. 09 – out./1995;  TAMISES 05 ­(2006) – Revista da Academia de Letras da Grande São Paulo — REGISTRO: Fundação Biblioteca Nacional – Escritório de Direitos Autorais No  205.836   -   Livro 356  -  Folha 496  -  Data:  21/07/2000.

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